domingo, 22 de janeiro de 2012

CRÍTICA de CINEMA

2 Coelhos


Quando um filme brasileiro se arrisca em um gênero no qual nosso cinema não tem muita intimidade, sou a favor da antropofagia. “2 Coelhos” é um exemplo atual dessa postura entre os filmes de ação, da mesma maneira que “Besouro” fez entre os filmes de super-herói.
Para contextualizar o leitor, a antropofagia vem da crença indígena de que, quando se come a carne de um guerreiro valoroso, se obtém as qualidades positivas desse guerreiro. No mundo das artes, a antropofagia defende que se use a influência estrangeira sem necessariamente perder as características únicas da nossa cultura.
O filme conta a história de Edgard (Fernando Alves Pinto, de Nosso Lar), um homem com um plano complexo para resolver dois problemas ao mesmo tempo. Na concretização do plano, muitos tiroteios, perseguições e explosões serão necessárias. É nesse ponto que “2 Coelhos” usa a influência de Hollywood, especialmente de filmes de Quentin Tarantino (“Bastardos Inglórios”) e Guy Ritchie (“Sherlock Holmes 2”). Por outro lado, a produção não deixa de lado sua brasilidade. Os obstáculos enfrentados pelo protagonista, as piadas nos diálogos e as paisagens paulistanas não nos deixam esquecer que se está vendo um filme nacional.
Depois de fracassos como “Federal” e “Segurança Nacional”, é importante que “2 Coelhos” consiga achar seu público. A qualidade finalmente está na tela em um filme de ação genuinamente brasileiro.

(Edu Fernandes)


As Aventuras de Tintim


Tintim é um personagem que veio dos quadrinhos de jornais e posteriormente ganhou vida em uma série animada. Ele, um jovem repórter investigativo, já desvendou vários mistérios e ajudou a polícia a prender muitos foras da lei, sempre ao lado de seu cachorrinho Milu, que o segue para todos os lados.
Na animação para os cinemas, dirigida por Steven Spielberg, “As Aventuras de Tintim” (The Adventures of Tintin) traz uma história cheia de mistérios e aventuras, onde o jovem é envolvido num segredo que pode levar a um tesouro perdido do velho Licorne, um navio que afundou após um ataque pirata.
A animação ficou perfeita, onde muitas vezes você pode até confundir o desenho com uma pessoa de verdade. Os detalhes são impecáveis, a paisagem então, nem se fala, faz você viajar junto aos lugares visitados pelos personagens.
Tintim descobre que a réplica de um navio que comprou em uma feira de antiguidades guardava um segredo. Ao ser roubado, passa a investigar quem estaria por trás de todo o mistério, e o porquê do interesse pelo navio. É aí que conhece o capitão Haddock, um velho lobo do mar que hoje está em decadência e afoga suas mágoas na bebida. Haddock é o típico personagem engraçado, mas às vezes nos deixa apreensivo com suas atrapalhadas. Ele é descendente de Francis Haddock, o capitão do Licorne que foi atacado por Rackham, o Terrível. Enquanto vão atrás do vilão Ivan Sakharin, que tenta a todo custo resgatar os mistérios do navio naufragado, Tintim, Milu e Haddock passam por uma aventura digna de “Indiana Jones”. Não tem como não comparar ao ver as cenas de pulo de telhado, voos acrobáticos, manobras mirabolantes. Para mim, mais pareceu um filho do Indiana que um repórter investigativo.
Apesar dos exageros, “As Aventuras de Tintim” é uma animação agradável para adultos, que fica mais empolgante se vista na versão 3D, onde a tecnologia digital usada foi a de captura de movimentos. O encerramento fica meio que sem desfecho, já que o filme será uma saga e isso fica bem claro quando chega ao final da película. A próxima animação será dirigida por Peter Jackson.

(Silvia Freitas)


A Separação


A razão pela qual o filme iraniano “A Separação” (Jodaeiye Nader az Simin) estar fazendo uma bela carreira internacional começa pelas qualidades de seu roteiro. O enredo é aparentemente simples, mas dá conta de explicitar vários problemas da sociedade iraniana.
Apesar de ainda amar seu marido, Simin (Leila Hatami) pede o divórcio. Ela quer morar fora do país, mas Nader (Peyman Moadi) precisa ficar para cuidar do pai doente. Nessa situação, Simin sente-se presa, já que o marido não permite que ela leve a filha deles para viver na Europa. A partir daí a situação se complica gradativamente para todos os personagens. Novos problemas surgem e o espectador atento percebe que o panorama sócio-político-religioso do Irã é o principal culpado pelos infortúnios apresentados no filme. Para atingir esse objetivo, “A Separação” faz algo que é elogiado em muitas produções europeias: não há uma figura que personifique claramente o vilão. Todos ali são vítimas das circunstâncias.
Quando se tem um filme que critica a sociedade iraniana exatamente no momento em que a comunidade internacional se posiciona contra os ditames do governo de Mahmoud Ahmadinejad, cria-se um contexto premiado para A Separação. A tendência de ir contra o regime iraniano não está apenas na questão nuclear e militar. No mundo das artes, vive-se um momento de censura e opressão, com alguns cineastas na cadeia e proibidos de realizar novas obras. A forma mais elegante de se posicionar contra essas posturas que beiram o totalitarismo é pelas artes, conquistando prêmios como o Globo de Ouro para melhor filme em língua estrangeira.

(Edu Fernandes)

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