segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CRÍTICA de CINEMA

Os Descendentes


"Meus amigos pensam que só porque eu moro no Havaí, eu vivo no paraíso, que não fazemos nada só tomamos coquetéis e só pegamos onda", esta simples frase faz parte do monólogo que abre o novo longa de Alexander Payne e exemplifica o pensamento de muitas pessoas, quando o assunto em questão é o Havaí. Muitos devem pensar que quem mora no estado vive em eternas férias. Mas a trama de “Os Descendentes” mostra que o cotidiano dos havaianos é tão hard quanto os dos simples mortais que não moram lá.
O filme mostra as mudanças na vida do advogado Matt King (George Clooney) após acidente de sua mulher, que a deixou em coma. Além disto, sua vida está passando por um turbilhão de acontecimentos, que dão ação à narrativa, viradas e comoção por parte dos personagens e espectadores. Destaque para o desenvolvimento dos personagens, por parte de uma equipe formada por Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, que se basearam, na obra de Kaui Hart Hemmings. Matt King é um homem que sempre deixou a família em segundo plano e tal tragédia o força a se reaproximar de suas filhas e tentar reparar seus erros. As investidas do pai de reaproximação e tentativa de compensação, por vezes frustradas são enfatizadas em ações de Clooney e pelo roteiro. Suas filhas também são personagens que estão passando por fases transitórias; uma entrando na pré adolescência e com uma tendência à melancolia e outra adolescente; ambas rebeldes de suas maneiras. Os problemas de Matt poderiam ser mais melodramáticos, mas a suavidade no roteiro e direção de atores por parte de Payne, tornam este drama degustavelmente doce; este é narrado em off por Clooney, que dá seu charme à trama; comentários à parte quebram sua rigidez.
A ambientação também contribui. Com belas paisagens, planos de praias e florestas, figurino característico do local sem cair no cliché e uma trilha sonoramente local ; o diretor introduz os espectadores na história e os leva - por duas horas - ao Havaí. Clooney ganhou neste filme o papel que lhe pode render um Oscar, com sua interpretação singela e sincera e um personagem humano; que erra mas está disposto a acertar. Os Descendentes é um daqueles típicos deliciosos filmes de Alexander Payne.

(Thais Nepomuceno)


Millenium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres


No caso específico de “Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres” o motivo dos estúdios hollywoodianos serem tão afoitos é bem mais simples, mas não menos curioso – OS AMERICANOS NÃO LEEM LEGENDAS! Por mais estranho que possa parecer, essa não é uma tendência nova. Só nos últimos anos foram lançados o terror de vampiros “Deixe-me Entrar” (Let me in), versão norte-americana para o sueco “Deixe Ela Entrar” e o longa “Brothers” (sem título em português) da Dinamarca, sobre um soldado na guerra do Iraque, ganhou uma versão homônima com Natalie Portman, Jake Gyllenhaal e Tobey Maguire como protagonistas. Além desses, diversos filmes franceses como “Taxi” e “Pour Elle” (que deu origem a “72 Horas”) ou animações japonesas como “Astroboy” são refeitas à moda americana para se adaptar aos gostos da população do país. Ou seja, quando um filme é tão badalado na Europa ou na Ásia a ponto de chamar atenção dos estúdios em Hollywood: pode ter certeza, lá vem remake na certa.
Baseada no primeiro livro da trilogia de Stieg Larsson, nos Estados Unidos, a versão cinematográfica, assim como a literária, possui o título mais “suave” de “The Girl With The Dragon Tattoo” (A Garota da Tatuagem de Dragão). Na trama, o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é condenado por caluniar o empresário Hans-Erik Wennerström. Com a reputação destruída, ele se afasta da revista Millennium (que dá nome a série), da qual é sócio. É justamente nessa hora que ele recebe o convite do industrial aposentado Henrik Vanger (Christopher Plummer) para ir a remota ilha de Hedeby no norte do país e investigar o desaparecimento de sua sobrinha que ocorreu há 40 anos. Durante essa empreitada ele conhece a hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara), a garota da tatuagem, uma figura realmente extraordinária. Uma punk magricela de 24 anos, com diversos piercings e tatuagens pelo corpo, antissocial e emocionalmente instável. Tanto no livro quanto nos filmes, ela rouba com maestria o suposto protagonismo de Blomkvist. Não é a toa que as duas atrizes que a interpretaram no cinema conseguiram uma ascensão meteórica pelo papel. Noomi Rapace da versão sueca projetou-se internacionalmente chegando a Hollywood. Já Rooney Mara, após alguns papéis de menor expressão, foi indicada ao Globo de Ouro e ao Oscar por sua perfomance– uma atuação realmente impecável devido à falta de expressão da personagem e os momentos críticos pelos quais ela passa.
Pode ser dizer que o diretor David Fincher e o roteirista Steven Zaillian fizeram um bom trabalho na adaptação, modificando alguns elementos do romance policial por praticidade e dando destaque as cenas de Lisbeth. À bem da verdade, o suspense em si não é o forte dessa história em nenhuma das mídias, mas sim a construção psicológica dos personagens. Dignos de nota, os créditos iniciais feitos no melhor estilo James Bond chamam a atenção pela plasticidade visual. Estaria Fincher cavando uma vaguinha no próximo 007?! O protagonista ele já conhece...

(José Messias)


J. Edgar


Em 1998, quando a vida do saxofonista Charlie “Bird” Parker ganhou as telas, Clint Eastwood conseguiu mostrar que era capaz de dirigir um longa que proporcionasse um retrato convincente de uma personalidade mundialmente conhecida, sem apelar para exageros dramáticos piegas ou se quer minimizar passagens pesadas da vida do cidadão. Seu Globo de Ouro de melhor diretor não me deixa mentir. Porém, com o passar dos anos e alguns longas depois, Clint pareceu ter dado o braço a torcer ao sistema pipocão de Hollywood ao dirigir “Invictus”, onde retratou de forma melosa o famoso episódio da vida de Nelson Mandela, no qual ele usa a copa mundial de rugby, em 1995, para unir brancos e negros contra o apartheid, no intuito de unificar a África do Sul.
Assim sendo, num misto de redenção e vergonha na cara, Eastwood resolveu voltar a brincar de gente grande tomando pra si a responsabilidade de reproduzir em película a vida enigmática do poderoso chefão do FBI, J. Edgar Hoover. Extremamente inteligente, temido e admirado, “J. Edgar” (J. Edgar) escondia um lado confuso e um tanto medroso que fazia parte do quebra-cabeça que compôs sua trajetória dentro da famosa agência americana de espionagem. Dando vida a mais um personagem conturbado em sua carreira, Leonardo Di Caprio disseca com extrema perfeição os famosos trejeitos característicos de Hoover, além de incorporar com extrema elegância os momentos de angustia, paranoia e os conflitos com sua homossexualidade.
Clint, como era se esperar, capricha na trilha sonora de sua autoria e encarrega mais uma vez seu querido amigo, Tom Stern, para delinear com precisão a exuberante fotografia. O que fica mesmo a desejar é a montagem um tanto lenta que acaba por entregar a fraqueza do roteiro, e a maquiagem que, ao invés de mostrar uma velhice realista, acaba nos remetendo ao incrível mundo da Madame Tussauds. Apesar das pequenas irregularidades na produção, Eastwood alcança um resultado satisfatório ao desvendar o lado obscuro dessa figura obscura e controversa.

(Rod Carvalho)

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