domingo, 1 de abril de 2012

CRÍTICA de CINEMA

A Novela das 8


Quem de vocês gosta de novela? No novo trabalho, produzido, escrito e dirigido por Odilon Rocha, “A Novela das Oito”, o universo dos noveleiros é o pano de fundo para a trama. Em uma época em que o país do samba estava aprendendo a dançar a Disco Music, percorremos por algumas histórias, em meio ao cenário político conturbado daquele tempo.
Pena que os diálogos são mal estruturados e alguns artistas não se encaixam nos personagens, deixando o espectador distante da novela das oito, ou melhor, do filme em questão. Na trama, duas mulheres completamente diferentes se envolvem em um assassinato de um policial tendo que fugir desesperadamente para outra cidade. Aos poucos vamos descobrindo que uma delas é uma mulher que teve que se distanciar da família e tem uma história com alguns militantes que são contrários ao governo da época. A partir daí, o longa muda de foco e passamos a conhecer uma nova história, com novos personagens e com direito a dancinhas coreografadas, música alta e globo de luzes girando sem parar. O Brasil da época do filme, final da década de 70 (mais precisamente o ano de 1978), vivia um momento conturbado na sua vida política. Dias também, em que a novela de Gilberto Braga, “Dancin’ Days”, fazia um tremendo sucesso em muitos lares brasileiros. Inclusive, muitos dos personagens do longa, em muitas cenas, param em frente à televisão para conferir essa novela que teve a direção de Daniel Filho.
A história demora muito para pegar e isso faz o espectador se afastar um pouco do objetivo do filme, que é contar a trajetória de Dora (Claudia Ohana), passando por muitas histórias até o seu desfecho. Muita informação é apresentada em muito pouco tempo, deixando tudo muito confuso, são muitas histórias para contar. É o famoso caso da boa ideia (o argumento tem boas questões) que não foi tão bem executada, muito por conta do roteiro.
No elenco vemos rostos famosos do grande público, como: Claudia Ohana, Vanessa Giácomo, Mateus Solano, Alexandre Nero, entre outros. A primeira é o grande destaque, sem dúvida, o ponto alto desse novo filme nacional, bela interpretação da veterana atriz. A segunda, que interpreta uma prostituta viciada em “Dancin’ Days”, usuária assídua de perucas, não está ruim na pele de Amanda o problema é que sua personagem se distancia totalmente da história, deixando de ser essencial à nova trama que vai se moldando. Mateus Solano interpreta um homem da elite brasileira que mora em Londres e está de passagem no Brasil, quando acaba se apaixonando por outro homem. Executa uma cena de beijo homossexual bem intensa que vai demorar a vermos em uma novela. Alexandre Nero faz o vilão da trama, seu personagem (Brandão) tem o mesmo ar carregado do motorista que interpreta na atual novela das oito. Tem horas que pensamos: baixou o Nicolas Cage no Alexandre! Muito pelas caras estranhas, alucinantes, que o personagem fazia e que o ator americano fica, cada filme que passa, mais conhecido.
O compasso da trilha sonora não segue o compasso do filme, esse aspecto prejudica muito a interação do público com o que está acontecendo em cena.
Você, noveleiro ou não, mesmo com essas palavras acima tem que tirar suas próprias conclusões. Recomendo que veja o filme. Vamos prestigiar o nosso cinema, quem sabe você curte?

(Raphael Camacho)


Heleno


Heleno de Freitas foi um dos grandes astros do Botafogo. Um jogador intenso, que tinha algo a mais que seus companheiros de clube: amor pela camisa e sede de vitória. Jogar bem não era suficiente, ganhar era o básico. Heleno era galanteador, boêmio, explosivo, intenso e egocêntrico. Depois de estrear no Festival de Toronto, o cineasta José Henrique Fonseca traz às telas a história do jogador.
Os espectadores conhecem-no em seu auge, sendo interpolado com seu declínio, em uma clínica. O álcool, as drogas, o temperamento e as mulheres foram alguns dos fatores decisivos na vida do que poderia ter sido maior jogador do Brasil. Mas a narrativa extensa, faz com que sua história perca sua força. Já a fotografia e direção de arte, impecáveis, transportam os espectadores às décadas de 40 e 50, apoiadas em uma fotografia em preto e branco, com belas paisagens que exploram o Rio Antigo e imagens de acervo do antigo calçadão de Copacabana.
Rodrigo Santoro vive o jogador, e com seu talento, imprime sua tempestuosa relação com os demais jogadores e as mulheres de sua vida. O diretor errou ao escalar alguns nomes importantes da televisão (como Herson Capri, Ernani Moraes, Marcelo Adnet, Fernando Caruso, entre outros) para pequenas pontas, fazendo do filme um grandes especial televisivo. Apesar de errar na forma, o longa mostra um outro Rodrigo Santoro, com uma bela produção de arte. E aplausos para a fotografia da produção.

(Thais Nepomuceno)


Fúria de Titãs 2


Em tempos de guerra, se você tem poder, então você tem dever. Seguindo essa linha de chamada de guerreiros que estavam aposentados, temos o pontapé do novo trabalho do Sul-Africano Jonathan Liebesman (“Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles”), “Fúria de Titãs 2”. Na eminente guerra, onde Deuses e homens são afetados, quem acaba sofrendo é o público com atuações muito fracas e uma história apenas superficial.
Na história da era mitológica, Perseus, filho de um Deus (Zeus, que possui uma barba ao melhor estilo Gandalf) vive tranquilamente como pescador cuidando do filho em um vilarejo longe dos Deuses de outros filmes. Quando seu pai é capturado por dois ‘amigos’ (Hades e Ares se juntam aos titãs contra a raça humana), galopando em seu pégasus, Perseus vai em busca da ajuda para a grande batalha: de Agenor (filho de Poseidon) e Andrômeda (uma bela guerreira), gerando muita ação em terceira dimensão. Enfrentando traições de Deuses, gigantes com apenas um olho (carinhosamente chamados de Cyclops) e monstros com chifres que soltam uma baba bem melequenta, o filho de Zeus busca seu objetivo.
Algumas coisas incomodam. O cenário da grande batalha parece um labirinto construído com peças de lego que vão se encaixando e se modificando conforme o trio de guerreiros vai avançando no local. Outro fator que chama a atenção são os decibéis que chegam algumas cenas com muita gritaria em foco, parece que você está assistindo um jogo da Sharapova.
Os guerreiros que usam sandálias têm atuações bem fracas, o que provoca no público um afastamento ainda maior da história. Jake Sully, desculpe-me... Perseus, é interpretado por Sam Worthington. Ainda precisa demonstrar mais talento para viver protagonista, mas tem carisma, isso ajuda muito. Zeus e seu dom mágico de gerar ‘hadoukens’ é figura poderosa na trama. Pena que Liam Neeson tinha um roteiro muito ruim em suas mãos. A inglesa Rosamund Pike dá vida a Andrômeda. Não se encontra no papel em momento algum, corre um sério risco de concorrer ao Framboesa de Ouro no ano que vem. A atuação de Toby Kebbell também é terrível. Não consegue se conectar com a história quase nunca, tem apenas alguns lapsos de falas interessantes para a trama, tenta a todo instante ser o elo da ação com a comédia (fórmula que não dá certo), nesse longa que tem o roteiro assinado por Dan Mazeau e David Johnson.
Pode ser até que vire um grande jogo de vídeo game, mas como filme deixou, novamente, muito a desejar.

(Raphael Camacho)


Um Método Perigoso


Para aqueles aficionados pela psicanálise, a famosa cura pela palavra, “Um Método Perigoso” (A Dangerous Method) é um prato cheio para entender um pouco sobre a contribuição e contradições que permeavam o relacionamento entre Sigmund Freud e Carl Jung. Porém, por outro Lado, para quem é fã do diretor David Cronemberg, mestre do terror psicologicamente visceral, pode ser uma baita decepção, pois o mestre resolveu puxar o freio de mão.
Depois de dois longas – Marcas da Violência e Senhores do Crime - que retravam a violência no grau máximo, parece que Cronemberg resolveu dar uma “respirada” e ir apenas pelo caminho reflexivo de um roteiro interessante, baseado em fatos reais, onde o fator predominante é a maneira formal e sutil das relações pessoais que começavam a ter seus paradigmas da época quebrados quando os questionamentos sexuais de comportamento passaram de mera suposições para as práticas em si. O problema foi que as cobaias acabaram sendo os próprios estudiosos. Suas teorias psicológicas onde os instintos ocultos são associados com a natureza humana acabaram pregando-lhes uma peça.
Viggo Motersen, muso inspirador do diretor em seus três últimos filmes, faz um Freud polemicamente intrigante. Um homem orgulhoso que sempre tem que ser dono das últimas palavras. Keira Knightley, a paciente tentadora de Jung, lembra muito Winona Ryder em seus papéis de doida incondicional, não apenas sentido emocional, mas muito nos trejeitos onde sua personagem extrapola sua loucura. Over. Até Vincent Cassel, que faz uma pequena participação como Otto Gross, um psiquiatra psicótico, a deixa no chinelo. Agora, Fassbender, o ator sensação do momento, deixa seus colegas pra trás no quesito foco interpretativo. A doçura minimalista dos seus gestos e tempos contemplativos fazem dele o destaque de toda a história. Vale ressaltar ainda que todos eles são adornados pela mão precisa na direção, além da estonteante fotografia de Peter Suschitzky.
Mesmo com tantos adjetivos, o filme deixa uma sensação de suspensão no ar. Como se faltasse algo mais consistente durante o andar da história um tanto arrastada, mas também para dar um fecho mais interessante, como se fosse uma amarra bem dada, claro, a gosto do espectador. Diferente dos mergulhos dados nos últimos longas de Cronemberg que nos deixaram com água no pescoço, dessa vez ela se quer passou do joelho.

(Rod Carvalho)


Beleza Adormecida


Dirigido e roteirizado pela estreante Julia Leigh, “Beleza Adormecida”, é um drama que tem uma atmosfera esquisita, e mostra uma jovem completamente inconsequente que arranja um novo emprego bem suspeito. A trama tenta ser detalhista mas acaba sendo insuportável, a vontade pegar no sono ou sair da sala do cinema baterá em sua cabeça a todo instante.
Na história, temos um retrato assustador da vida de uma jovem estudante universitária que é envolvida em um mundo misterioso do prazer e sexo escondido quando arranja um emprego freelancer para trabalhar como garçonete, que tem como ‘modelito’ uma lingerie insinuante. A jovem não sabe mas é drogada com soníferos fortíssimos e toda noite é acompanhada de velinhos que se aproveitam da situação, cada um a sua maneira.
O filme não tem propósito, não tem emoção. Aos olhos da protagonista tentamos entender uma trama que é um absurdo completo. Com direito a um nu frontal (totalmente desnecessário) de um senhorzinho de mais de 70 anos de idade, o filme se torna indigesto e bem cafona em quase todas as sequências da ‘bela adormecida’.
No papel principal temos a jovem Emily Browning (“Sucker Punch - Mundo Surreal”), que interpreta Lucy (ou Melissa, ou Sara), uma jovem que trabalha como garçonete, ajudante administrativa e servente sexy de festas de senhores com grana. Personagem um tanto quanto não regulada da cabeça, dorme no chão do escritório, queima cédulas de seu salário, vai para o bar quase toda noite se insinuar aos marmanjos de plantão, que chegam a apostar uma transa com ela no cara e coroa. O trabalho da atriz australiana é muito prejudicado por uma história completamente vazia, onde sua personagem tem a difícil missão de preencher muitas lacunas, fato que não ocorre.
Muitos acharão a produção metafórica e encontrarão entendimento nesse audacioso trabalho. Mas a verdade é que as peças desse quebra-cabeça não fazem parte do mesmo jogo.

(Raphael Camacho)

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