domingo, 3 de maio de 2009

A vida após a morte


O homem passa boa parte do tempo planejando o futuro, aprendendo e realizando novas tarefas, descobrindo o mundo e correndo atrás de seus objetivos. Mas isso será que acaba quando o cérebro e o coração param de funcionar?
Com uma resposta prática para essa indagação, o espiritismo tornou-se a segunda opção religiosa para 40 milhões de brasileiros.
Segundo o espiritismo, a alma de todo ser humano morto, reencarna quantas vezes for preciso para que através de boas ações, ela se purifique, tornando-se livre de imperfeições e não retorna mais ao corpo físico. O espiritismo também garante que com treino, qualquer pessoa pode se comunicar com os mortos.
Há várias respostas para a comunicação com o outro lado da vida, como receber conselhos e orientação daqueles que já se conformaram com a idéia de serem desencarnados, ou de buscar um pouco de conforto através do contato espiritual, para que o vivo saiba que seu amigo ou parente passa bem. O espiritismo também conforta seus seguidores porque oferece explicações para todos os problemas da vida e coloca o sofrimento como uma forma de purificação da alma.
Com o apego da humanidade à religiosidade, veio à crença na vida eterna e no renascimento da alma e até do corpo físico em suas existências, acompanhada com a possível comunicação entre vivos e mortos. De uma maneira ou outra, tais idéias estão presentes quase que em todas as religiões, mesmo as que renegam esse aspecto.
Para o criador da psicanálise Sigmund Freud, os conceitos como reencarnação e comunicação com os mortos servem de consolo para a angustia que os humanos sentem diante da finitude. Os psicanalistas e os místicos estão à procura da mesma pergunta: o que vem depois?
Essa pergunta é freqüente na cultura humana. Na cultura da Grécia Antiga era permitido que às almas escolhessem novos seres para encarnar, tanto em animais quanto em humanos. No Egito os faraós eram sepultados com suas riquezas para que pudessem usufruí-las no outro mundo.
O Brasil se destaca nas estatísticas mundiais como a pátria do espiritismo de inspiração Kardecista – nome que se deriva de Allan Kardec, estudioso positivista francês do fim do século XIX, que produziu uma versão cientificista dos fenômenos religiosos na vida após morte.

Allan Kardec (1804-1869)

A crença na reencarnação e na comunicação com os mortos não é somente brasileira, uma pesquisa mostrou que 51% dos americanos acreditam em espíritos e 27% crêem na reencarnação, a única diferença entre o Brasil e os Estados Unidos são o respeito e as dimensões que o espiritismo alcançou na sociedade brasileira.
Os escravos que vieram da África no século XVI trouxeram consigo crenças no contato direto com os mortos. Nos Estados Unidos, os negros cultivavam práticas semelhantes, mas elas foram perseguidas até a extinção pelos protestantes que conceituavam a encarnação como coisa do diabo e não de espíritos.
O espiritismo chegou ao Brasil no momento de crise política que aconteceu no começo da Republica, havia uma insatisfação com a cúpula da Igreja Católica, ligada ao conservadorismo político e monárquico. Os adeptos ao espiritismo procuravam usar ao máximo os conceitos científicos da época, principalmente o racionalismo e o evolucionismo, para justificar o espiritismo, o que dava aos cultos uma respeitabilidade que atraía a elite letrada. Na França o preconceito é tido com bruxaria até hoje.

Chico Xavier (1910-2002)

O espiritismo se expandiu e ficou conhecido no Brasil através do médium mineiro Chico Xavier, que se tornou celebridade nacional ao receber diariamente em seu centro espírita, caravanas de crentes em busca de curas e contatos com os mortos. Humilde e com formação primaria, Chico Xavier escreveu 400 livros atribuídos por ele a autores já mortos e que venderam mais de 30 milhões de cópias. O médium era considerado por muitos um santo, sua grande contribuição foi mostrar o lado da caridade que pontua a cartilha de Allan Kardec, e ao propagar a prática da caridade, Chico humanizou o espiritismo e acabou com o preconceito que se tinha contra a religião.

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